sábado, 31 de dezembro de 2011

Hora das retrospectivas pessoais!

O ano de dois mil e onze foi pra mim assim... como é que eu posso dizer? mmmm... Intenso! É isso, não tem outra palavra. Aliás, tem sido assim pelo menos nos últimos sete anos ou mais. Normal pensar nisso agora, né?! Afinal, não tem dia melhor pra se fazer uma retrospectiva pessoal do que trinta e um de dezembro.
Então vamo lá, finzinho de dois mil e quatro, ainda no penúltimo ano de faculdade. Entre dois mil e quinhentos candidatos, consegui abocanhar uma das onze vagas pro jornalismo no programa de estágio da TV Globo. Dois mil e cinco, então, foi fundamental. Foi quando comecei a aprender de verdade o que era jornalismo em televisão. Um ano no qual observei, absorvi e me preparei.
Dois mil e seis foi maluco. Foi quando me formei, saí do estágio e com a ajuda de um monte de gente caí na estrada pra ver se eu realmente tinha jeito de fazer aquilo que sempre tive vontade: ser repórter. Comecei cobrindo férias em Itapetininga, depois passei por Santos, até que cheguei contratado em Dracena, no extremo oeste do estado de São Paulo. No pequeno escritório da TV Fronteira aprendi a me virar. Um cara chamado Claudinei Troiano foi meu mestre. Só pisou em faculdade pra gravar matéria, só que conhece mais de jornalismo que muito bacharel por aí.
Em dois mil e sete fui promovido. Presidente Prudente foi meu rumo. Fui pra sede, emissora maior, mais gente, talvez mais responsabilidade. E ali eu me soltei. Comecei a dar forma ao estilo que me segue até hoje. Celsão, Luciano, Adílson, Sandro, Cláudio, Paulinho... Repórteres Cinematográficos com letra maiúscula. Foram os caras que me ajudaram a encontrar um jeito "meu" de fazer TV. Com eles coloquei em prática idéias loucas. Muitas não funcionaram, mas as que deram certo fizeram muito sucesso, com a graça do bom Deus.
Foi o que preparou meu terreno pro pulo do gato. Em dois mil e oito, matérias malucas começaram a chamar a atenção dos meus antigos chefes de São Paulo. Fui chamado pra começar a cobrir fins de semana e férias na capital. Ao todo foram quase seis meses de volta ao lugar que me ensinou o que era TV. E ali dei meu sangue. Muita gente acreditou que eu seria contratado imediatamente, estava tudo dando certo. O destino até queria isso, mas não naquele momento. Em outubro voltei pra Prudente e logo em seguida recebi uma grande proposta: ser repórter de rede em Brasília pelo SBT. Topei!
Dois mil e nove, portanto, foi outro recomeço. Nova cidade, nova emissora, nova função. Agora segurava o microfone pro país todo me ver... todo dia. Ali entendi a responsabilidade de ser um repórter de rede, mesmo cedo, aos vinte e quatro anos. No segundo semestre mais uma novidade: minha primeira viagem internacional. E longa. Quarenta dias fora do Brasil gravando na China e na Mongólia... que experiência!
Aí veio dois mil e dez. Um ano que ajudou a consolidar minha imagem no jornal. Fiz muita coisa bacana, e, logo nos primeiros meses do ano, fui avisado que iria ser o repórter da seleção Brasileira na Copa do Mundo da África. Comecei a cobertura em maio, na convocação feita no Rio de Janeiro. Depois fui pro Paraná fazer a preparação do time do Dunga em Curitiba. Aí segui pra África, onde viajei seguindo a seleção por boa parte das cidades sede e ainda na Tanzânia e no Zimbábue. Foi show!
Depois de tudo isso tive a certeza que dois mil e onze seria tranquilo, o que mais poderia acontecer? Muita coisa... mal sabia eu. Alberto Villas assumiu a direção de jornalismo do SBT e apostou muito em mim, sou eternamente grato. Viajei mais... São Paulo, Goiás, Salvador, Paraíba. Cresci, me projetei e no dia trinta de junho, recebi mais uma proposta... voltar pra TV Globo em São Paulo. Foi como se um parente estivesse me ligando pra eu voltar pra casa. Aceitei e aqui estou. Na volta reencontrei todo mundo. Parecia que nunca tinha saído. E olha que fiquei dois anos e meio fora. Poderia jurar que não.
Dois mil e doze chegou. Esperar o que, hein? Sei la... melhor não esperar... deixar que aconteça. Porque dessa forma tem funcionado demais. Muito, mas muito melhor do que qualquer planejamento que eu poderia ter feito. Meu conselho é: faça planos. Mas não estranhe se eles não se desenrolarem do jeito que você previa. Tudo muda... ainda bem que é assim. Feliz dois mil e doze pra você!

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sim... fiquei pra titio!

Demorou! Mas, enfim, aconteceu... a Isabella nasceu. Não, sério, porque juro que eu cheguei a pensar que não ía rolar. Nunca vi menina mais preguiçosa. Mas aí quando me dei conta, o preguiçoso era eu. Preguiça de colocar a cabeça pra funcionar só um pouquinho. Minha sobrinha - e afilhada - é filha do cara mais leeeeeeeeeeeeeeento da história recente da humanidade. Diego Siani, pior que tartaruga com reumatismo. Aí o elemento vai e me arruma uma mulher mais vagarosa que ele. Juntou o devagar com o "freio de mão puxado", o "parei sem saber" com o "morri e ninguém me contou", o lesado com o vigia de escargot... enfim. Quando a gente foi ver, Paty estava grávida. Diego, claro, demorou bastante pra entender o que acontecia até chegar à conclusão: "phodeu". Mas o tempo passou, a barriga começou a cresceu, e veio o primeiro ultra-som. Aí, parceiro, um abraço. Isso porque eu ainda nem falei da minha mãe. A cidadã conseguiu pôr no mundo quatro homens (sim, tive irmãos gêmeos, que morreram logo após o parto... já superei, contenha o choro, ok?!). O sonho da vida dela era ter uma menina, tanto que ela vive dizendo que enchia o cabelo do meu irmão de chuquinhas (na verdade era o meu cabelo, mas é phoda de assumir isso). Agora imagina você a felicidade dela com o nascimento da primeira neta... a menina que ela tanto queria. Ãããããããããiiiii, que olelhinha maisss linda. Aaaaahhhhh, cossa gotossa da fofó. É daí pra pior, companheiro.
Eu sou o padrinho. Tô babando, dá pra ver, eu sei. Demorei dois meses pra conseguir ir a Santos e conhecer a nova Siani. Véi, na boa... entendi todas as síncopes embasbacadas da minha mãe ao telefone falando da neta, todos os olhares absurdamente entusiasmados do meu irmão nas photos que ele me mandou com a filha, todas as empolgações na hora de montar o quarto dela. Agora, mais do que nunca, sinto a distância da família. Queria muito ver minha sobrinha crescer, mas destino é destino... bicho chato "dusinferno". O jeito vai ser, pelo menos por enquanto, correr pra Santos sempre que der. Uma folga prolongada, um resquício qualquer de férias, muito disso vai se transformar em pretexto pra eu ir ver minha afilhada gorducha. Foi o que aconteceu em fevereiro, quando saí de Brasília pra um merecido descanso, passei por 397 cidades do interior de São Paulo e vazei pra Santos. Enfim conheci a "tossamaidotossadititio". Um fenômeno da babylândia. Sorridente igual ao padrinho, toda gorducha com uma papada de Jô Soares mirim, um barato. Ela é exatamente do jeito que todo bebê deveria ser... risonha e cheia de dobras. Um marshmallow sapeca. Toda ativa, uma estripulia da moléstia. Bicho, ela é um fenômeno. Fenômeno ao pé da letra, porque ela é gordinha que nem o Ronaldo. Ele, aliás, parou a carreira chorando e ela começou a vida sorrindo. Juro que não é exagero. Ela dá gargalhadas, acha tudo engraçado, em especial a minha mãe. Outro dia abri a porta do quarto às duas da manhã pra dar um boa noite e ela tava com o olhão aberto deitada ao lado da mãe, essa sim já quase dormindo. As pupilas dilatadas pra tentar observar com atenção todos os detalhes do quarto montado em tons de roxo clarinho. Virava a cabeça pros lados como quem busca algo de novo pra examinar com o olhar, uma descoberta em meio a um ambiente já conhecido. Não me aguentei com a cena, entrei no quarto pra dar beijo no pescoço com cheiro de pomada e assoprar a pancinha infantil toda esbranquiçada com restinho de talco e, quando me sentei perto, ela abriu um sorriso tão gostoso, que me obrigou a ficar ali por quase uma hora. Dava pra ouvir as gargalhadas dela com as minhas palhaçadas do quarto ao lado, onde minha mãe dormia um sono, que denunciava o quão pesado era pelo nível de decibéis emitido durante os roncos compridos, ecoados por toda a casa. Não sei se a Isabella ria disso também, mas que ela tava achando muita graça, isso ela tava. Depois de muito custo ela se acalmou, ameaçou fechar os olhos e me deu a deixa que também era hora de me deitar. Dei uma última beijoca e fui dormir leve, lembrando de cada trejeito gostoso dela.
Poucos dias depois voltei pra Brasília com a sensação de estar deixando pra trás o mais novo pedacinho de mim. Uma pecinha gorducha, fundamental pro meu quebra-cabeça... e eu nem sabia disso antes dela nascer. Vou ser o tio mais "deseducador" possível, porque pra educar já bastam os pais. Meu papel vai ser o de bagunçar, gerar aquele caos divertido, tão importante pro desenvolvimento de uma criança. Quero que ela seja o melhor dos adultos, que tenha um coração bom. Isso, quero que ela tenha um coração bom, é só o que eu realmente peço. Porque a partir disso, todo o resto vem naturalmente, é consequência lógica. Pra mim, só se é completo se o interior valer a pena. E a julgar pelas gargalhadas que ecoam pela casa, ela vai ter o melhor dos corações!

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A semana em que eu levei ferro!

Ou eu não tenho a menor noção de como se administrar um estabelecimento daquele ou a dona da lavanderia que eu sou cliente acha que eu não sei fazer conta. Não, porque depois de dois anos levando algumas roupas lá só agora eu descobri que pra lavar e passar cada camisa custa R$4,60 e só lavar R$1,80... dá pra acreditar?! E como eu, assumidamente, tenho a mão mais fechada que porta de freezer novo resolvi botar meu ferro de passar pra funcionar freneticamente, coisa que nunca tinha acontecido até então. Como ele estava acostumado, no máximo, com uma passadinha rápida da camiseta um pouquinho amarrotada por estar dobrada há muito tempo no guarda-roupa, acabou abrindo o bico rapidinho. Não me admirei um nada. O ferro que eu tinha em casa era herança da última inquilina do apartamento que eu alugo em Brasília. Pra ela ter me dado imagina o naipe… daqueles genéricos, quase descartáveis. O teflon que servia pra fazer o metal da parte inferior deslizar melhor sobre o tecido há muito já havia derretido e o resto que ainda se mantinha firme fazia questão de às vezes deixar uma manchinha de lembrança, geralmente, perto do bolso ou dos botões mais próximos à gola. E como eu não costumava me tornar o mais feliz dos seres quando isso acontecia acabei nem me chateando muito quando ele, absolutamente do nada, parou de funcionar.
Ok, estava convencido, portanto, de que já estava mais que na hora de pedir licença ao escorpião, que insiste em habitar meu bolso, e ir à compra de um ferro novo. Aproveitei uma das minhas cada vez mais raras manhãs livres pra ir a um shopping um tanto quanto popular aqui de Brasília. Lá tem todas aquelas lojas onde dá pra mobiliar toda a casa com móveis que, geralmente, já estão acabados antes do fim carnê. E é por isso que eu gosto tanto de ir lá. Pesquisei, pesquisei, pesquisei e descobri que estava perdendo tempo. O aparelho que eu escolhi pra comprar tinha o preço meio que tabelado em todas as lojas. Aí acabei fechando negócio nas Casas Bahia, o último estabelecimento que eu fui. Escolhi um BLACK & Decker, que ironicamente, era branco. Prezei pela confiança da marca, que, até então, eu acreditava ser top. Paguei R$59,90 num modelo a vapor, sem o teflon maldito. Um modelo sem frescurite nenhuma. Nada de esguichinho, borrifador ou aqueles breguenaites que encarecem um monte o produto e a gente acaba que nunca usa. Um ferro de macho (se é que isso existe).
Pensa numa criança contente indo embora com o brinquedo novo era eu. Como estava, como sempre, meio atrasado, fui direto pro trabalho e o deixei no carro. Depois de mais uma labutante rotina voltei pra residência e fui babando achar uma camisa toda engruvinhada pra testar minha mais nova aquisição. Tirei da caixa, chequei a voltagem, liguei na tomada. Abri um sorriso, abri a tábua, estiquei a camisa. Esperei esquentar, comecei a passar. Fiquei empolgado. A TV estava alta e acabei achando que o barulhinho que eu ouvia vinha do filme que também passava naquela hora (Entendeu o “também passava”, hã, hã, hã?). Radicalizei enchendo o ferro de água e doido pra, pela primeira vez na vida, usar um ferro a vapor com vapor de verdade. Foi a idéia mais idiota dos últimos tempos. O barulho, que era mais ou menos assim: bzzzzzzzzz, bzzzzzzzzzzzzzzz, ficou cada vez mais alto e contínuo. Dei um pulo e, na base do reflexo, puxei o cabo da tomada. Esvaziei o reservatório. Guardei o maledeto na caixa de novo e fui dormir mais emburrado que namorado traído pelo melhor amigo.
No dia seguinte voltei na loja, troquei o ferro por um outro exatamente igual depois de um processo super burocrático, e voltei pra casa. Meu armário é pequeno, as camisas ficam muito juntas e naturalmente acabam ficando amassadas. Peguei uma delas pra testar o ferro novo de novo e eis que chego à conclusão que hoje em dia tudo é feito pra quebrar. O barulho dos infernos voltou. Dessa vez deu até pra ver uns raiozinhos assustadoramente azuis sendo projetados no vão que fica entre a base de metal e o corpo do ferro... o tal do salva botões. Por um instante achei até que não tinham trocado nada, que o moço da loja tinha me engabelado bonito, mas raciocinei alguns minutos a mais e percebi que o problema poderia ser do lote que foi adquirido pela loja.
De novo abri mão de importantes horas do meu dia pra retornar ao shopping já com aquela cara você imagina do que. Dessa vez fiquei tão desgostoso que só queria meu dinheiro de volta. Aí que o bicho pegou. Fui mega mal atendido, destratado, quase implorando pra alguém ali fazer valer o utópico, mas existente, código de defesa do consumidor. Primeiro procurei um vendedor, que me encaminhou pra assistência técnica, que falou pra eu procurar o gerente, que jurou que eu resolvia tudo no balcão do pacote, que tinha um cara nojento que me deixou falando sozinho, que me obrigou a chamar um vendedor, que disse pra eu conversar com o responsável do setor de eletrodomésticos, que me mandou pro crediário onde, enfim, parecia que conseguiria dar fim a referida via sacra de mais de uma hora. No caixa da loja fui atendido por uma operadora um tanto quanto despreparada (característica primordial de pelo menos 80% de quem lida com o público aqui em Brasília). Ela disse que eu havia pago com cartão de débito e iria receber em dinheiro. “O senhor faz nesse papel uma declaração disso aí pra mim”. Desse jeito, sem nem me olhar no rosto. De tão cheio da vontade de arrancar meu estômago pela boca que eu tava, tomei uma decisão pra não mandar a mulher às fezes (pra falar bonitinho). Só de raiva escrevi bem assim no papel: “Paguei em débito e to recebendo em dinheiro, assinado Phelipe Siani”. Quando ela disse que daquele jeito não servia e demorou uns cinco minutos pra trazer outro papel achei melhor fazer certo logo, pois tinha que trabalhar dali a pouco mais de uma hora e ainda tinha que passar em casa pra me arrumar.
Na manhã seguinte com o dinheiro ressarcido e uma desilusão eletrodoméstica das grandes fui ao supermercado Extra em busca de um outro ferro. Lá, onde eu não havia pesquisado antes e tive uma surpresa grata. Encontrei um modelo da Black & Decker superior ao que eu erroneamente comprei pelo mesmo preço que eu havia pago. Esse tinha o esguichinho inútil, mas beleza. Custava os mesmos R$59,90. Comprei. Fui pra casa e adivinha... adivinha... adivinha... ADIVINHAAAAAAAAAAAAAAAA! A merda começou a fazer o barulho maldito. Que inferno, ferro desgraçado do cacete. Negócio feito pra acabar com o dia dos outros, saco! Olhei pra parede, juro que pensei em atirar minha cabeça em direção a ela de ódio. Jesus, que raiva me consumia naquele momento. Voltei babando pro supermercado e a atendente, claro, não entendia o porquê da minha ira. Ela disse que pra trocar eu tinha que passar antes pelo cara da assistência técnica testar. Foi o que ele fez. Ligou o ferro na minha frente e o aparelho do capeta, só pra fazer do desgraçado do Murphy o homem mais orgulhoso da lei que criou, não deu um piu. Mesmo assim eles me deixaram substituir a desgraça, talvez por medo da baba branca que jorrava dos cantos da minha boca.
Escolhi um Electrolux azulzinho que me custou R$20 a mais. Voltei pra casa. Testei, a princípio, sem problemas. Coloquei água pra usar o vapor e bingo... achei uma cagada. Pelos buracos de onde deveria sair água em estado gasoso saía líquido mesmo. Em vez de passar, lavei a camisa de novo. Aí desisti de usar o vapor porque o ferro tinha um monte de botões que eu não faço a menor idéia pra que que servem. Fiquei revoltado e passei a usar o ferro no seco. Foi aí que cheguei à conclusão que bom mesmo era o ferro herdado da inquilina, que não deve ter custado mais que R$30 e durou, só na minha mão, dois anos. Com ele nunca tive um probleminha sequer até o suspiro final que ele deu, quando, assim como a gente, deixou de ser quente e ficou com o corpo gelado pra sempre. Pra falar a verdade o teflon que saía nem incomodava tanto assim. Era só passar uma aguinha e tava tudo certo. Bendito ferrinho genérico... olha, eu era feliz e não fazia a menor idéia. Agora agüenta, se vira com o "passar da modernidade"!

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tenho andado na "secura" total!

Basta me conhecer um pouquinho pra saber que eu amo futebol. Gosto de ver, de falar, mas, acima de tudo, de jogar. Os psicólogos me odeiam... o futebol é a minha terapia. Sou lateral direito e, pra mim, os problemas somem, mesmo que momentaneamente, quando eu dou um cruzamento de 40 metros certinho no pé de quem tá lá na banheira (o que nem sempre acontece, entende?!). Mas desde que cheguei a Brasília o ofício de exercer essa arte, digamos assim, se tornou um pouco mais trabalhoso. Não pela falta de lugares ou de galeras pra jogar, não é isso. Isso é "facinho" de achar, sempre. O problema é bater uma bola num sábado a tarde, com um sol rachador na cabeça e com a umidade relativa do ar em 8%. Sim, eu disse 8%. Aqui a gente, invariavelmente, convive com esse ambiente, digamos, "evaporizador". Alguém já teve essa experiência? Bicho, é horrível! Funciona mais ou menos assim: sabadão, dia lindo, você de folga chega bate aquela adrenalina de boleiro barrigudo. Aí você vai pro campo, encontra os parceiros, já vai dando uma "petecada" na bola do lado de fora só pra esperar chegar a hora do "racha". Aí os times são escolhidos, você pega um colete vermelho cintilante rasgado, que é usado todos os dias, mas só é lavado nos últimos fins de semana do mês, e o veste como se fosse a amarelinha da seléça. Devidamente trajado vai pro campo. Finge que dá uma alongada, logo interrompida pela ansiedade de começar a brincar de estrela logo. Aí o jogo começa, você pega na bola, dá um pique rumo ao gol adversário, dribla um, faz uma tabela perfeita com aquele companheiro perna de pau, que, por algum motivo, fez a única jogada certa das últimas 7 semanas logo com você, recebe de volta, sai na cara do gol, mira no ângulo e... chuta na bandeirinha de escanteio??? Você não tem mais perna, campeão. Mas o jogo acabou de começar e você já morreu em campo? Pois é... bastam pouquíssimos minutos de jogo pra gente implorar por um gole d'água naquela torneira enferrujada na lateral do campo. Aquela mesma com o cano de PVC marrom aparecendo em meio às falhas do acabamento feito com fita veda rosca. E você bebe aquela água como se fosse um suco estupidamente gelado de laranjas recém colhidas do pé. Aqui é assim. Todo mundo vive na secura (sem querer ofender os ninfomaníacos).
E pra dormir? Ahhh... pra dormir. Em São Paulo, pra mim, dormir com uma garrafa de água ao lado da cama era pura mania. Aqui é necessidade vital. Já cheguei a acabar com uma garrafa de um litro e meio durante a noite, tendo o sono interrompido por pelo menos 4 vezes graças a ímpetos de garganta extremamente seca. Quando a garrafa acaba e a sede continua chego a levantar e ir até a cozinha (que no caso é exatamente ao lado da cama... outro problema de Brasília: apartamentos "claustrofobicamente" pequenos e "empobrecedoramente" caros). Só se o sono for muito grande pra largar mão do percurso "zumbístico". Aí é assumir as ruminadas buscando nos mais remotos cantos escondidos entre a língua e os dentes gotículas de saliva que possam, por ora, umedecer a aspereza de uma boca absurdamente seca. Mas vamos supor que a sonolência venceu a sede. Ainda tem outra questão: Na manhã seguinte o bom dia vai sair pela metade porque a boca grudada vai lutar pra se abrir num bocejo matinal. Caso a teimosia insista em usar os músculos faciais pra esticar os lábios numa guerra declarada contra o aspecto esponjoso, o resultado pode ser o aparecimento de feridas e crateras avermelhadas graças a ação da sua burrice.
E aqui estou eu... escrevendo sobre isso, fazendo uso de um protetor labial com fator de proteção solar 50 e rezando pra que as tímidas nuvens que vejo se formarem no céu se materializem em chuvas pesadas. Quem sabe assim nosso dia a dia seja um pouquinho menos seco e a falta de "humildade" de muitos dos meus companheiros de pelada seja diminuída pela volta da "umidade" do ar.

quinta-feira, 25 de março de 2010

Bendito (ou maldito) cinzeiro!

Eis que chego eu num confortável apartamento do hotel Comfort Suites, em São Paulo. Já era quase de madrugada, joguei minhas malas num canto qualquer, um defunto caminhante de tanto cansaço. Tinha acabado de chegar de Salvador e faria no dia seguinte cedo minha viagem de volta a Brasília. Entrei no banho num banheiro um tanto quanto esquisito. O chuveiro era instalado no teto, exatamente no meio do box, estranhíssimo. Após poucos minutos notei que o ralo não escoava a água na mesma velocidade em que ela era despejada. Resultado: tomei um banho "homeopático". Dois ou três minutos de grossos fios d'água caindo com força pra cinco ou seis minutos esperando um tímido rodamoinho se formar no chão.
Depois da leve tortura aquática, enxugado e asseado, liguei na recepção pra pedir um sanduíche daqueles monstruosos, assim como a minha fome no momento. Deitei, espriguicei-me e olhei pela janela. Em meio ao caminho percorrido pelos meus olhos até o vidro que refletia a luminosidade do lustre côncavo no teto da suíte, algo muito curioso chamou a minha atenção. Havia ali um cinzeiro em cima do criado mudo que ficava do lado esquerdo da espaçosa cama de casal. O que achei mais estranho foi o fato de, como sempre, eu ter pedido um quarto de não fumante. Imediatamente me sentei na cama e peguei o tal cinzeiro na mão. Por um instante pensei sinceramente que meus olhos me enganavam por conta do sono que sentia quando vi no fundo do cinzeiro um logotipo daqueles que indicam a proibição do fumo. Acionei de imediato minhas pálpebras pra que elas cumprissem a função a que se propõem de clarear a visão quando necessário. Fitei novamente o objeto. Sim, realmente o tal logotipo estava ali. Sozinho comecei a dar longas gargalhadas. Nada mais lógico diante de um fato tão ilógico. Analisei mais "criteriosamente" a peça de vidro e vi que logo abaixo do desenho estava escrito algo do tipo: "É proibido fumar nesta suíte. Este cinzeiro é apenas para sua comodidade.". Ok, mas pra que "catso" eu preciso de um cinzeiro se eu não fumo? Pra que eu quero um cinzeiro se, mesmo se eu fumasse, é proibido praticar tal ato na suíte? No que um maldito cinzeiro de vidro redondo, com não mais que dez centímetros de diâmetro vai tornar minha hospedagem mais cômoda?
Minutos depois uma fraca batida na porta de madeira atiçou minha lombrigas estomacais que há tempos parecem habitar minha anatomia. Atendi o rapaz que fazia o serviço de quarto ainda um pouco risonho com a tentativa anterior de me "proporcionar mais comodidade". Ele perguntou se estava tudo bem, respondi que sim e agradeci o educado atendimento. Comi, deitei e dormi.
No dia seguinte despertei com o telefonema da recepção avisando que já eram oito da manhã, horário que havia pedido pra ser acordado porque meu voo seria logo em seguida. Dormi bem, a cama era confortabilíssima. Ao me preparar pra sentar e tentar vencer de imediato a "preguicite aguda" que me corroía o corpo naquele momento, coloquei os pés no chão. No mesmo segundo senti as meias que vestia ficarem "ensopadas". Quando olhei para baixo, ainda com a visão embaçada, notei uma grande poça arredondada no carpete marrom. Tentei procurar por alguma garrafa d'água que tivesse esbarrado durante a noite bem durmida, mas não encontrei. Era de fato algum vazamento no defeituoso quarto. Torci a meia, me arrumei o mais rápido que pude e deixei a suíte. Na hora de fazer o check-out a moça da recepção me perguntou: "Foi tudo bem na sua estada?". Respondi: "Sim, o ralo do banheiro não funcionou corretamente, o que me obrigou a tomar um banho de quase uma hora abrindo e fechando o fluxo da água e sentindo muito frio em meio a esse processo. Estou carregando um par de meias que devem chegar a Brasília mofadas porque pela manhã elas ficaram encharcadas quando pisei no aguaceiro formado por algum inexplicável vazamento ao lado do banheiro. Tudo isso teria me deixado muito insatisfeito, mas não... Pra minha sorte, havia num dos criados mudos ao lado da cama um cinzeiro com um logotipo de proibido fumar no fundo. Logo que o vi respirei aliviado... se não fosse por isso, como minha comodidade seria garantida? Bendito cinzeiro... amei esse hotel, viu?!". Volto sempre!

sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Eu sei que ainda tá bem longe, mas já tenho idéia de onde vou curtir minha merecida aposentadoria!

Ok, ok, ok... sem xingamentos muito sujos, por favor, também não é pra tanto, vai. Não sou nem um pouco imprescindível na vida de quem dedica algum tempo que seja pra ler as “lelecrices” quê escrevo. É verdade, há meses não encosto meus dedos nervosos no teclado pra escrever algo que preste minimamente pra esse blog. Rapaz, ta difícil, hein. Não sei o que é pior, a falta de tempo ou o excesso de preguiça que faz o tempo faltar. Mas enfim... tô de férias, ó que coisa boa, moço! Já passei por Minas, onde comi pé de moleque com rapadura (eu sei, é estranho, mas eu comprei sem querer achando que era só amendoim); pelo Rio de Janeiro, onde não fui nem no Corcovado e nem no Pão de Açúcar; segui pra Santos pra visitar mamãe, o mano, vó, vô, tia, “primaiada” e me estressar com uma vizinha um tanto quanto desequilibrada, pra ser bem ameno; e aí agora to em Presidente Venceslau... cidadão, viu?! Sério. Tá, vai, quarenta mil habitantes não enchem nem a metade do maracanã, mas é tudo gente do bem. Povo do interior é “bão demais”. É por aqui que eu vou me aposentar, com certeza absoluta. Só faço uma adaptação nesses planos se mudar de idéia (o que acontece de três a setenta vezes por dia).
Dá uma analisada nos prós e nos contras: Do lado bom da coisa tem o tal do tereré, ervinha maldita que vicia quem bebe. Quase um chimarrão com uns galhinhos bem grossos. Bebida encorpada e que a gente toma gelada. O melhor é que sempre junta uma roda grandes amigos “figuraças” pra “resenhar” (geralmente falar sobre futebol e carro) e passar o copinho de mão em mão. Todo mundo bebe na mesma “bomba”, um tipo de canudo de ferro cumprido. Só evito quando tô com herpes, sacanagem com os parceiros, né?! Aí tem pracinha, rua de paralelepípedo, um aceno de mão pra um conhecido a cada vinte metros, compra no supermercado assinando vale pra pagar depois, quando puder, como puder. Aqui é tudo assim. E o futebol? Tem quase todo dia. Aqui “pelada” a gente chama de “racha”. “E aí, Gu, tem racha hoje?”. É sempre tão bom ouvir que sim, arrumar a chuteira na mochila e correr pro campo.
Mas pra um hiperativo com déficit de atenção como eu deve ser no mínimo entediante viver por aqui a maior parte dos trezentos e sessenta e cinco dias do ano. Sei lá, acho que me acostumei com barulho de buzina, hélice de helicóptero e sirene de polícia embalando minhas noites de sono mais ou menos bem dormidas. Amo acordar às três da madrugada e dar uma descida no mercadinho vinte e quatro horas pra comprar um chocolate. Acho fantástico ter tudo à mão sempre que precisar, contar com inúmeras opções na hora de cotar o preço de uma peça pro carro ou um lustre pra casa.
Sou louco por trabalho e absurdamente apaixonado pelo que faço, com a graça do nosso bom Deus. Ah, mas sempre que eu venho pra essas bandas tenho uma instantânea vontade de ficar por aqui pra sempre. Uma vontade que só sinto aqui. Quem sabe um dia alguém funda uma cidade de fato com todas as características positivas de uma metrópole (inclusive com o barulho na hora de dormir), mas com aquele “jeitaço” maravilhoso e apaixonante de cidadezinha bem de interior mesmo. Olha, amigo, se um dia esse lugar existir alguém me avisa... que eu corro pra lá!

sábado, 4 de julho de 2009

O comum não cabe no LCD

Definitivamente o digital está na moda. Por vezes o termo assusta mais que as mudanças trazidas por ele. Pouca gente sabe exatamente o que virá de novo num mundo digitalizado, só sabe que muda, muda e ponto. Quem trabalha em TV vive um período de transição. Um meteorologista em meio a uma tempestade sem saber se o sol vai aparecer ao fim dela. Muito se fala sobre os avanços que a TV Digital vai trazer. A interatividade, a possibilidade de se ter um televisor conectado na Internet, poder comprar um disco no intervalo da novela com um clique na tela de lcd. Incrível não? Mas e o jornalismo? Pro profissional da palavra pouco importam tantos recursos tecnológicos, tantas opções de entretenimento, sem a definição do que fica diferente no quesito informação.

Então pra nós o que de fato muda? Muda muito. O que hoje não damos tanta atenção pode ser o que vai definir nossa credibilidade. Uma imagem em alta definição mostra a barba mal feita, a espinha inflamada, o cravo mal espremido. Em HDTV somos pessoas de verdade, em 1080 linhas de resolução somos iguais a quem nos assiste, iguais a qualquer um. Os repórteres de “porcelana” serão cada vez mais escassos. “As” repórteres vão carregar na maquiagem, “os” repórteres vão ter que aprender a conviver com ela. É isso ou assumir as olheiras.

No entretenimento mudarão os cenários de novelas, de programas. Tudo vai ter que ser mais caprichado. Os pequenos detalhes vão saltar pra fora do monitor. As imagens das escaladas dos telejornais vão ser ainda mais chocantes, ainda mais impactantes.

Acredito que mais que tecnológico o futuro do jornalismo em TV vai ter uma linguagem que hoje ainda timidamente se apresenta aos telespectadores. Digo já há tempos que atualmente ninguém mais tem tempo de sentar em frente à televisão e assistir a um noticiário chato, quadrado, insosso. Junto com a tecnologia a maneira de contar as histórias também vai mudar... obrigatoriamente, acredito. Os repórteres de amanhã terão que ser envolventes, cativantes, conquistadores de quem os assiste. O chato não tem espaço na TV do futuro. Amanhã o comum já vai ter nascido velho.

Christina Siani "twittará"?

Eu "twitto", tu "twittas", ele "twitta", nós "twittamos", vós "twittais", eles "twittam". É, meu amigo, a internet inventou mais esse verbo. Mais um entre tantos “neologísticos” verbos e substantivos ponto com. Pois é, porque hoje eu "inicializo" meu dia de trabalho, "deleto" da memória a vontade de jogar futebol quando vejo o sol lá fora e faço o download da pauta do dia com a minha chefe. Depois eu faço um update na minha agenda e "baixo" os assuntos nos quais eu preciso me atualizar. Um backup de todas as fontes bacanas com quem eu conversar é sempre bom. Tem sido mais ou menos assim.

Só que repetir todo esse aparato vocabular tecnológico pra minha mãe é ensinar mandarim pra um jamaicano que fala só esperanto. Por mais que eu tente não tem jeito. Não consigo incluí-la digitalmente. Nem com programa do governo. Até endereço de e-mail eu já criei pra ela, mas nada. Ela insiste em viver como na década de 70, quando ainda gozava da então jovialidade pra conquistar admiradores do caráter e da beleza inenarráveis que ela ostentava. Imagino naquela época como deveria ser viver sem Orkut, msn. Sem poder visitar o blog do pretendente, sem poder dar uma “googada” na vida alheia pra saber se vale a pena chamar pra sair, ficar só amigo ou nem isso.

Agora com esse tal de twitter a ilusão veio à tona. Cara, eu sigo o Marcelo Tas, o Millôr Fernandes e o Marcelo Adnet. Mas por um acaso você acha que eles vão me dar ao menos um "oi, tudo bem como vai" se passarem por mim na rua, é? Tipo: “Opa, você não é o cara do twitter?”. Não! Só que “twittando” eles podem ser meus amigos de infância. Bicho, isso é muito doido. Com o Orkut não era assim não. Esse tal de twitter tá revolucionando o mercado dos deslumbrados cheios do mundo real.

Mas tudo bem, também sigo o G1, SBT Brasil, a CNN, The Economist... o que é bom. Porque assim tenho a sensação de que não estou alimentando o vício do inútil, como acontecia e ainda acontece com o Orkut. Orkut é entretenimento. No meu twitter pelo menos de vez em quando vêm umas manchetezinhas lá. Já dá pra se informar mais ou menos. E o bom é que eu sei como foi o treino do Corinthians hoje pelo post do globoesporte.com e sei também o que o Mano Menezes achou do Ronaldo na última partida pelo comentário dele numa discussão “twittatória”. Não é o máximo? Eu acho! Acho e vou continuar achando como já achei um dia que o ICQ, com aquelas florzinhas ridículas e aquele “óow” irritante avisando que uma mensagem chegou, era a melhor invenção da humanidade. Conclusão: Não é que tudo que é bom dura pouco, é que hoje em dia a duração de tudo que parece ser bom depende da capacidade criativa do homem em logo mais ali na frente inventar outra coisa que vai deixar o espetacular só no inconsciente coletivo de cada um. E tenho dito!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Até que é bom ser um problemático convicto!

É bom poder escrever. Aqui a gente registra as etapas do crescimento sem saber. Esses dias estava lendo uns textos antigos, foi o maior barato. Em cada conjunto de palavras a lembrança clara do contexto em que foi escrito. Aí comecei a entender o tesão de crescer. De fazer os desafios se tornarem fatos concretos, de trazer o inimaginável pro rotineiro, de renovar a carga de problemas.
Problemas... pensa bem, a gente não sabe valorizá-los. O que seria da vida sem todos os nossos problemas? Assim como o esfriar de uma garrafa de cerveja gelada é uma troca de calor com o ambiente onde ela está - no caso a mesa do boteco - a solução dos nossos problemas é a troca do esforço pela experiência. O fascinante é o desafio.
Claro que falar assim sobre algo que incomoda tanto a todos nós é muito bonito. Saco é ter que enfrentar tanta coisa chata e complicada pra viver bem. Mas tudo bem. Olha só, na verdade, cada nova fase da nossa vida é uma grande caixa fechada cheia de problemas doidos pra serem resolvidos. Quando a gente se cansa de um emprego, de um namoro, de uma amizade é porque precisamos partir pra outra. Pra outra leva de problemas. Eles sempre vão existir, o bom é que se renovem. Quando se tornam crônicos é melhor abandoná-los, com raríssimas exceções.
O emprego é bom enquanto os problemas ainda são desafiadores, quando o chefe é chato, mas parece te testar pra saber do que você é capaz, quando o colega é arrogante, mas parece uma questão de tempo até você conquistá-lo e ganhar um grande amigo pra falar mal do chefe xarope. Aí o tempo passa, o chefe continua chato e o amigo arrogante. Faça uma auto-reflexão: caso chegue à conclusão de que o problema não é você, procure outro emprego, procure outros problemas.
Bom, agora dá uma olhada na sua vida amorosa. O problema é a falta de dinheiro pra pagar um jantar decente pra namorada? Ou a falta de cumplicidade entre os dois? Carinho de menos? Demais? Ciúme demais? Podem nem ser problemas, porque no começo ela talvez nem ligue, você provavelmente nem ligue. Mas se ela começar a reclamar muito faça aquela pergunta pra você mesmo: O problema sou eu? Não, não sou! Ah, parceiro, troque a namorada! Procure outra que te ofereça problemas novos, mais desafiadores e menos crônicos.
No quesito amizade a questão é muito simples, pelo menos pra mim. Amigo não vai sumir, se acontecer não é por mal. Amigo não vai deixar de te atender, a menos que a bateria do celular acabe. Amigo vai sempre deixar bem claro que gosta de você, sem atitudes estranhas, sem olhares questionadores, a menos que você os mereça. Enfim, amigo te ajuda a resolver seus problemas. Se um amigo te complica mais do que te ajuda, então talvez não seja seu amigo.
De resto é o de sempre. Torcer pra que a vida nos dê de presente bons problemas. Se assim for, certamente iremos resolvê-los com o maior prazer do mundo.

A historia do ovo bomba

Um pouco de leite, dois ovos e queijo à vontade. Ingredientes modestos que, quando aliados ao saber culinário, resultam numa iguaria simplesmente divina: o ovo no leite.
Passado de geração em geração o prato é apreciado intensamente na família. E eu, como bom ostentador do sobrenome que me foi dado ao nascer, não poderia quebrar esta tradição, que rompe as barreiras do tempo e transcende todos os limites e diferenças culturais do almoço de domingo.
Pois bem, no ano de 2004, quando ainda cursava jornalismo, mantinha-me empregado em dois estágios, o que me consumia praticamente todo o tempo em que não estava em aula na faculdade. Chegava em casa por volta das 23h30, naturalmente, morto de fome. Nesse estado de pura indefesa estomacal me dirigia à cozinha como um somaliano de baixa renda, louco para manter viva a tradição culinária da família.
No caminho de volta para o lar já imaginava como seria preparado o ovo no leite da noite. Com um pouco de molho shoyu, talvez, ou quem sabe catchup, até mesmo tempero de macarrão instantâneo... tudo é válido!
Foi numa dessas cruzadas diárias que o inesperado aconteceu. Cheguei em casa e meu irmão mais velho, Diego, estava assistindo televisão na sala. Antes de começar a seguir o menu de sempre preparei a estrutura mínima necessária: peguei uma frigideira recém lavada, ainda no escorredor de pratos e a coloquei no fogo. Para diversificar resolvi fritar um hambúrguer juntamente com os ovos. Quando coloquei óleo na frigideira percebi que algo estava errado. O recipiente, que a esta altura estava tampado, começou a fazer barulhos estranhos, como um pacote de pipocas de microondas prestes a ficar pronto. De tão cansado, não percebi que colocava no fogo, uma frigideira ainda molhada. Foi aí que tive a infeliz idéia de chegar mais perto do fogo para identificar o problema. A merda toda explodiu! Só tive o tempo de cobrir o rosto. A tampa voou para o outro lado da cozinha. O óleo, que antes estava dentro da frigideira, se espalhou por todo o chão, não se esquecendo de poupar nem a borracha da porta da geladeira. Graças ao bom Deus e aos Santos protetores dos atrapalhados que nada de mal me aconteceu. Quando tirei a mão do rosto desliguei o fogão. Olhei para os lados e não acreditava no que via. Se alguém viesse me contar, certamente não acreditaria. Era impensável imaginar que fui capaz de fazer toda aquela cagada sozinho. Era óleo pra tudo quanto era lado. Meu irmão, que com o barulho correu em direção à cozinha, provavelmente preocupado com o meu bem estar, ria de se mijar. Dizia que eu teria que limpar tudo aquilo sozinho.
A rotina dupla de estágio já não bastava. As cansativas aulas acompanhadas de profundas cochiladas e babadas no caderno também não. Para fazer jus à minha fama de "só faz merda" tinha que completar meu dia com uma dessas. Resultado: Gastei horas limpando a cozinha. Fui dormir fedendo a óleo e, claro, com muita fome... depois disso, não sei porque, enjoei de ovo no leite!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Eu comprei um peixe

Olho pra ele e não consigo entender. De um lado pro outro a irritabilidade fica evidente pela quantidade de movimentos bruscos e olhares tortos. Dá até medo às vezes. Eu comprei um peixe. Já faz tempo. Mas não canso de olhar pra ele. É bonito, azul, brilhante. Nadadeiras compridas, que parecem um bonito e longo véu, balançando dentro da água clara. Mas voltemos à questão da índole perturbada do animal. Já conhecia a fama antes mesmo de comprá-lo. Fui avisado e mesmo assim paguei pra ver... literalmente. Três reais... foi quanto ele me custou. É um peixe Beta. A espécie inspirou o nome: Beto. E assim fiquei feliz de verdade com a aquisição de um novo amigo. AmigO porque acho que é homem, o vendedor não garantiu que de fato fosse. Ele também não sabia. Daí resolvi escolher o sexo. É macho. Macho e pronto. Mas aí me veio à cabeça a seguinte máxima. Amizade não se compra, né?! Muito menos se escolhe o sexo. De fato, se fosse assim os homens, provavelmente, iriam pôr bundão e cabelo comprido em todos os “brothers”. Por isso acho que o Beto se ofendeu com a maneira pela qual eu escolhi para incluí-lo na minha família. Achei que ele fosse entender, afinal não tenho gabarito suficiente pra pescar nem um lambari que seja, quanto mais um peixe como o Beto, que eu nem sei onde vive. E tem mais. Tive que comprar porque achei que poderia ser difícil conquistar a amizade de um bicho que dizem ser bastante nervoso. Enfim, ele é meu. Meu amigo. Não se discute mais isso. Sendo assim não levei pra casa o primeiro aquário que vendia na loja. Era muito pequenininho, apertado, quadradão, feio, sem simetria nenhuma. Levei o Beto pra casa num saquinho plástico transparente mesmo e logo arrumei pra ele um dormitório decente. Maior, redondo, bojudo... bonitão. No fundo coloquei pedrinhas brancas. Logo acima outras transparentes, maiores, recheadas com detalhes cor de laranja que pareciam pequenas flores dentro de pedaços redondos de cristal. Evidentemente que não era isso, mas que parecia, parecia. Pra completar o cenário de paz da casa onde o Beto morava dentro da minha casa, arranjei um belo exemplar de uma planta verde. Até que vistosa, mas de plástico... somente plástico. Tão artificial que ficava presa no fundo do aquário por uma ventosa e não colaborava em absolutamente nada pra fotossíntese embaixo d´água. Assim fiquei bastante satisfeito com meu novo propósito. Cuidar de um animal. De um ser vivo. Pra muitos o Beto pode não fazer a mínima diferença no mundo, mas pra mim ele passou a ser um companheiro. Afinal ele vive comigo, no meu quarto. No criado mudo ao lado da minha cama. Passou a ser assim: Todo dia eu acordava com o barulho irritantemente alto do alarme do celular, e acho que ele também. Gostava disso porque nós dois despertávamos bem elétricos. Ele era agitado que nem eu. Por isso me apeguei tanto, me identifiquei tanto. E assim a rotina prosseguia. Acordava cedo, às vezes bem cedo. As primeiras palavras costumavam ser: “Bom dia, Beto”. Não ouvia nenhuma resposta nunca, vê se pode?! Mas, tudo bem, nem me abatia com a ignorância alheia. Mesmo com a falta de educação matinal alimentava meu novo parceiro aquático. Todos os dias, duas vezes por dia. Era sempre assim. Cinco bolinhas de ração de manhã, cinco bolinhas de ração no fim da tarde. No domingo então, era uma maravilha... três refeições. Sempre que eu chegava perto do aquário tentava puxar um papo. Geralmente começava devagarzinho. Elogiando sempre, pra inflar o ego do bicho. Falava pra ele que ele estava bonito. Que estava comendo direitinho, que crescia, ficava forte. Dizia sempre que eu estava muito orgulhoso dele. Mesmo assim só recebia em troca cara feia e olhares de repressão. Isso quando ele olhava pra mim. Não eram raras as vezes em que, por conta de tudo isso, eu ficava bem chateado. Em muitos momentos, quando já era tarde, fui dormir contrariado, pensando que logo ali, ao lado da minha cama, tinha alguém que não estava nem aí pra mim. Mesmo assim, sempre dava boa noite. Aí cheguei à conclusão: De fato o Beto era um ingrato. Isso era inegável. Tratava tão bem dele e a agressividade que eu recebia em troca muitas vezes me incomodava. Sou bem da paz, sabe?! Mas também não posso reclamar muito não. Já sabia que os peixes dessa espécie são brigões, mal encarados. Dizem que um Beta é capaz de matar um outro peixinho que for colocado no aquário dele. E que se esse peixinho for um outro Beta, os dois brigam até morrer de cansaço. Trágico não?! Diante da natureza assassina do meu companheiro de quarto decidi ficar na minha. Vai que sobra pra mim. Daí, antes de dormir, com a cabeça no travesseiro, pensava onde eu tinha errado na educação do “meu querido”. Dizem que o Pit Bull é um cachorro agressivo, mas já conheci vários deles bem mansinhos, dóceis e brincalhões. Vai da criação. Achei que com o Beto poderia ser igual. Por isso sempre tratei dele tão bem. Às vezes até tentava acariciá-lo com a ponta do dedo enfiada dentro da água. Mas o Beto sempre fugia. Confesso: Hoje sinto-me um fracassado. Falhei na missão de educar meu peixe. Sento em frente a ele e aí, quando ele enxerga o próprio reflexo no vidro do aquário fica todo inchado. Chego a pensar que é pra mim. Ele estica as guelras e dá uma clara demonstração de que não consegui fazer dele um amigo do peito. Tudo bem. O animal fica o dia todo nadando na água fresquinha, come bem, descansa quando quer, mora numa casa confortável, com piscina... só piscina, e ainda é estressado. Imaginei que se fosse gente, poderia se tornar a representação de um cara podre de rico, casado com um mulherão, cheio de conforto e ainda assim infeliz, ignorante. Imagina esbarrar num sujeito desse na rua?! Melhor que ele continue sendo peixe. Sabe de uma coisa?! Mesmo assim eu ainda trato ele bem. Permaneço com a esperança de que um dia ele se torne mais bonzinho. Vai que eu convenço o bicho. Só tenho medo de uma coisa: Dizem que ele tem vida curta. Vai ver que é porque logo morre de stress. Espero que o meu peixe não tenha um colapso nervoso. Espero que ele entenda logo, e de uma vez, que o melhor mesmo é viver em paz. Boa noite, Beto!

domingo, 8 de junho de 2008

E é por isso que eu gosto tanto de ser brasileiro!

Futebol é o maior barato. Adoro escrever sobre esportes, mas futebol é o que há. Criado com avó, babá e irmã mais velha foi o homem que nunca sonhou em ser jogador profissional um dia. Eu quis, mas evidentemente nunca tive competência futebolística para atingir tal objetivo. Graças a Deus abandonei a idéia e me tornei jornalista assim que percebi minha gritante deficiência com a redonda nos pés. Hoje apenas brinco, bater uma bola é terapia, digo isso a toda hora. Ser repetitivo nesse caso é questão de princípios. E assim como no trabalho, nas amizades, e em muitos dos compromissos diuturnos, divirto-me muito jogando. Demais mesmo. A cena de um “racha” qualquer por si só já é hilária, mesmo ainda sem as jogadas esdrúxulas e as quedas provocadas por pisões, torções e chutes que destroem o refletor. Aquele mesmo que fica a uns dez metros acima do gol, onde o jogador jura que mirou na hora do chute.
Bom, vou provar o que digo enumerando e comentando as bizarrices: Começamos pelo porte físico dos atletas. Quando eu era criança e adolescente os times eram divididos na base do “com camisa e sem camisa”, hoje a galera já conseguiu uns coletes raramente lavados, mas com cores gritantes o suficiente pra tornar injustificada a desculpa de que “errei o passei porque te confundi com o adversário”. E é nesses coletes que vemos uma coleção de barriguinhas um tanto quanto salientes, umbigos, que sufocados pelo tecido fino, parecem um grand canyon em meio a tanta adiposidade. Isso sem falar no estilo dos corredores. A cada meia dúzia de passos ligeiros, uma crise de falta de ar. E não me excluo desse cenário bizarro.
Dando continuidade ao show de horror temos a habilidade propriamente dita, ou a falta dela, no caso. É uma beleza ver um companheiro aspirante a malabarista tentar elaborar uma bicicleta sem tirar o pé esquerdo do chão e acertando a cabeça do zagueiro no momento em que a bola já está quase no meio do campo. Uma beleza de jogada. Robinho então tem de monte. Todo mundo quer pedalar. Daí é comum sempre ter gente com o tornozelo torcido depois de tentar coreografar a miquice. Claro que sempre tem um ou outro que às vezes acerta uma jogada bacaninha e que até joga bem. Mas quase sempre esses se irritam com a incompetência alheia.
Daí chegamos ao ponto talvez mais incrível dessas histórias de boleiros. A famosa “mala”. Pode crer: o mais emperequetado antes do jogo começar é sempre o pior do time. E também é o mesmo que os caras falam bem baixinho pro companheiro ao lado: “Dá uma olhada na chuteira do fera. Deve jogar demais”. Mal sabem. Marrento é a mãe!
Chegamos então a maior das mentiras que contamos pra nós mesmos enquanto nos sentimos Cristianos Ronaldos no campinho de terra. A falsa sensação de “olha como eu sou saudável”. A regra é sempre a mesma: meia hora ou quarenta minutos de pelada pra duas horas de porções de torresmo peludo. Assim que acaba o jogo todo mundo corre pro buteco pra descarregar a tensão acumulada com aquela voadora que levou do zagueirão que agora está aos berros, exaltado pelo efeito de cinco copos da cerveja sem espuma, defendendo o meio campo do timão. Aí o malabarista que chutou a cabeça do colega na tentativa da bicicleta jura que são paulino não é gay e que o Richarlyson não escreveu Ricky na camisa pra provocar a torcida, que foi a namorada dele que pediu. Enfim... depois de cumprir com meu papel de ser mais um especialista nessa grande mesa redonda de bar vou pra casa. Durmo tranqüilo, saciado e cheio de satisfação por saber que, mesmo 500 gramas mais gordo por causa do X-Salada que eu comi por não agüentar a porção de picanha chegar, cumpri minha meta esportiva da semana!