quinta-feira, 25 de março de 2010

Bendito (ou maldito) cinzeiro!

Eis que chego eu num confortável apartamento do hotel Comfort Suites, em São Paulo. Já era quase de madrugada, joguei minhas malas num canto qualquer, um defunto caminhante de tanto cansaço. Tinha acabado de chegar de Salvador e faria no dia seguinte cedo minha viagem de volta a Brasília. Entrei no banho num banheiro um tanto quanto esquisito. O chuveiro era instalado no teto, exatamente no meio do box, estranhíssimo. Após poucos minutos notei que o ralo não escoava a água na mesma velocidade em que ela era despejada. Resultado: tomei um banho "homeopático". Dois ou três minutos de grossos fios d'água caindo com força pra cinco ou seis minutos esperando um tímido rodamoinho se formar no chão.
Depois da leve tortura aquática, enxugado e asseado, liguei na recepção pra pedir um sanduíche daqueles monstruosos, assim como a minha fome no momento. Deitei, espriguicei-me e olhei pela janela. Em meio ao caminho percorrido pelos meus olhos até o vidro que refletia a luminosidade do lustre côncavo no teto da suíte, algo muito curioso chamou a minha atenção. Havia ali um cinzeiro em cima do criado mudo que ficava do lado esquerdo da espaçosa cama de casal. O que achei mais estranho foi o fato de, como sempre, eu ter pedido um quarto de não fumante. Imediatamente me sentei na cama e peguei o tal cinzeiro na mão. Por um instante pensei sinceramente que meus olhos me enganavam por conta do sono que sentia quando vi no fundo do cinzeiro um logotipo daqueles que indicam a proibição do fumo. Acionei de imediato minhas pálpebras pra que elas cumprissem a função a que se propõem de clarear a visão quando necessário. Fitei novamente o objeto. Sim, realmente o tal logotipo estava ali. Sozinho comecei a dar longas gargalhadas. Nada mais lógico diante de um fato tão ilógico. Analisei mais "criteriosamente" a peça de vidro e vi que logo abaixo do desenho estava escrito algo do tipo: "É proibido fumar nesta suíte. Este cinzeiro é apenas para sua comodidade.". Ok, mas pra que "catso" eu preciso de um cinzeiro se eu não fumo? Pra que eu quero um cinzeiro se, mesmo se eu fumasse, é proibido praticar tal ato na suíte? No que um maldito cinzeiro de vidro redondo, com não mais que dez centímetros de diâmetro vai tornar minha hospedagem mais cômoda?
Minutos depois uma fraca batida na porta de madeira atiçou minha lombrigas estomacais que há tempos parecem habitar minha anatomia. Atendi o rapaz que fazia o serviço de quarto ainda um pouco risonho com a tentativa anterior de me "proporcionar mais comodidade". Ele perguntou se estava tudo bem, respondi que sim e agradeci o educado atendimento. Comi, deitei e dormi.
No dia seguinte despertei com o telefonema da recepção avisando que já eram oito da manhã, horário que havia pedido pra ser acordado porque meu voo seria logo em seguida. Dormi bem, a cama era confortabilíssima. Ao me preparar pra sentar e tentar vencer de imediato a "preguicite aguda" que me corroía o corpo naquele momento, coloquei os pés no chão. No mesmo segundo senti as meias que vestia ficarem "ensopadas". Quando olhei para baixo, ainda com a visão embaçada, notei uma grande poça arredondada no carpete marrom. Tentei procurar por alguma garrafa d'água que tivesse esbarrado durante a noite bem durmida, mas não encontrei. Era de fato algum vazamento no defeituoso quarto. Torci a meia, me arrumei o mais rápido que pude e deixei a suíte. Na hora de fazer o check-out a moça da recepção me perguntou: "Foi tudo bem na sua estada?". Respondi: "Sim, o ralo do banheiro não funcionou corretamente, o que me obrigou a tomar um banho de quase uma hora abrindo e fechando o fluxo da água e sentindo muito frio em meio a esse processo. Estou carregando um par de meias que devem chegar a Brasília mofadas porque pela manhã elas ficaram encharcadas quando pisei no aguaceiro formado por algum inexplicável vazamento ao lado do banheiro. Tudo isso teria me deixado muito insatisfeito, mas não... Pra minha sorte, havia num dos criados mudos ao lado da cama um cinzeiro com um logotipo de proibido fumar no fundo. Logo que o vi respirei aliviado... se não fosse por isso, como minha comodidade seria garantida? Bendito cinzeiro... amei esse hotel, viu?!". Volto sempre!

7 comentários:

Brenda Filan disse...

Eu sempre leio e acho interessante os posts que você cria Phelipe! Você escreve os fatos, os pensamentos muito bem.

Eu sou sua fã!!

C.J. disse...

Oi Phelipe, adoro assistir suas reportagens! E agora que descobri que voce tem um blog, vou te visitar sempre!
Muito engracada sua descricao do hotel. Eu que sempre viajo a trabalho tambem ja passei bons momentos bem engracados (e outros nem tanto...).

Thiago disse...

Olá Phelipe, boa Tarde! Então, sou Thiago Vieira, assessor de imprensa da prefeitura de Goiânia. Até te mandei convite pra me add pelo orkut! Tenho 25 anos, e sou formado em Jornalismo há 02. Estou escrevendo um livro, onde aborda exatamente isso, pessoas novas na profissão. E por ser um fã incondicional do SBT Brasil, sobretudo por ver lá o mestre Carlos Nascimento, suas matérias começaram a me chamar atenção! E n'outro dia, dia vi um ao vivo seu, e como sempre, muito seguro. E comecei a te admirar também. E gostaria muito de poder te entrevistar para este projeto. É um livro totalmente despretensioso. É mesmo um sonho pessoal. Se puder me passar o seu e-mail, ou até mesmo me add no orkut, ficaria grato. Obrigado! Tiago Vieira

turetta disse...

Post bacana. Excelente profissional voce rapaz! Estava assistindo o Carlos Nascimento e de repente salta na minha tela você, com muita classe e eloquencia falando da seleção... Voce tem muito talento e sabe comunicar. Sucesso, abraços!

Paramirim News disse...

Preciso conhecer este hotel urgente. hehe. Muito boa a história.

Thiago Cunha disse...

Ótima crônica!

Mr. Copper disse...

Descobri o blog do Ph agora e me surpreendi bastante! Além escrever muito bem os temas abordados são interessantes e com a dose certa de humor. Parabéns!!! Deus continue abençoando!