sábado, 4 de julho de 2009

O comum não cabe no LCD

Definitivamente o digital está na moda. Por vezes o termo assusta mais que as mudanças trazidas por ele. Pouca gente sabe exatamente o que virá de novo num mundo digitalizado, só sabe que muda, muda e ponto. Quem trabalha em TV vive um período de transição. Um meteorologista em meio a uma tempestade sem saber se o sol vai aparecer ao fim dela. Muito se fala sobre os avanços que a TV Digital vai trazer. A interatividade, a possibilidade de se ter um televisor conectado na Internet, poder comprar um disco no intervalo da novela com um clique na tela de lcd. Incrível não? Mas e o jornalismo? Pro profissional da palavra pouco importam tantos recursos tecnológicos, tantas opções de entretenimento, sem a definição do que fica diferente no quesito informação.

Então pra nós o que de fato muda? Muda muito. O que hoje não damos tanta atenção pode ser o que vai definir nossa credibilidade. Uma imagem em alta definição mostra a barba mal feita, a espinha inflamada, o cravo mal espremido. Em HDTV somos pessoas de verdade, em 1080 linhas de resolução somos iguais a quem nos assiste, iguais a qualquer um. Os repórteres de “porcelana” serão cada vez mais escassos. “As” repórteres vão carregar na maquiagem, “os” repórteres vão ter que aprender a conviver com ela. É isso ou assumir as olheiras.

No entretenimento mudarão os cenários de novelas, de programas. Tudo vai ter que ser mais caprichado. Os pequenos detalhes vão saltar pra fora do monitor. As imagens das escaladas dos telejornais vão ser ainda mais chocantes, ainda mais impactantes.

Acredito que mais que tecnológico o futuro do jornalismo em TV vai ter uma linguagem que hoje ainda timidamente se apresenta aos telespectadores. Digo já há tempos que atualmente ninguém mais tem tempo de sentar em frente à televisão e assistir a um noticiário chato, quadrado, insosso. Junto com a tecnologia a maneira de contar as histórias também vai mudar... obrigatoriamente, acredito. Os repórteres de amanhã terão que ser envolventes, cativantes, conquistadores de quem os assiste. O chato não tem espaço na TV do futuro. Amanhã o comum já vai ter nascido velho.

Christina Siani "twittará"?

Eu "twitto", tu "twittas", ele "twitta", nós "twittamos", vós "twittais", eles "twittam". É, meu amigo, a internet inventou mais esse verbo. Mais um entre tantos “neologísticos” verbos e substantivos ponto com. Pois é, porque hoje eu "inicializo" meu dia de trabalho, "deleto" da memória a vontade de jogar futebol quando vejo o sol lá fora e faço o download da pauta do dia com a minha chefe. Depois eu faço um update na minha agenda e "baixo" os assuntos nos quais eu preciso me atualizar. Um backup de todas as fontes bacanas com quem eu conversar é sempre bom. Tem sido mais ou menos assim.

Só que repetir todo esse aparato vocabular tecnológico pra minha mãe é ensinar mandarim pra um jamaicano que fala só esperanto. Por mais que eu tente não tem jeito. Não consigo incluí-la digitalmente. Nem com programa do governo. Até endereço de e-mail eu já criei pra ela, mas nada. Ela insiste em viver como na década de 70, quando ainda gozava da então jovialidade pra conquistar admiradores do caráter e da beleza inenarráveis que ela ostentava. Imagino naquela época como deveria ser viver sem Orkut, msn. Sem poder visitar o blog do pretendente, sem poder dar uma “googada” na vida alheia pra saber se vale a pena chamar pra sair, ficar só amigo ou nem isso.

Agora com esse tal de twitter a ilusão veio à tona. Cara, eu sigo o Marcelo Tas, o Millôr Fernandes e o Marcelo Adnet. Mas por um acaso você acha que eles vão me dar ao menos um "oi, tudo bem como vai" se passarem por mim na rua, é? Tipo: “Opa, você não é o cara do twitter?”. Não! Só que “twittando” eles podem ser meus amigos de infância. Bicho, isso é muito doido. Com o Orkut não era assim não. Esse tal de twitter tá revolucionando o mercado dos deslumbrados cheios do mundo real.

Mas tudo bem, também sigo o G1, SBT Brasil, a CNN, The Economist... o que é bom. Porque assim tenho a sensação de que não estou alimentando o vício do inútil, como acontecia e ainda acontece com o Orkut. Orkut é entretenimento. No meu twitter pelo menos de vez em quando vêm umas manchetezinhas lá. Já dá pra se informar mais ou menos. E o bom é que eu sei como foi o treino do Corinthians hoje pelo post do globoesporte.com e sei também o que o Mano Menezes achou do Ronaldo na última partida pelo comentário dele numa discussão “twittatória”. Não é o máximo? Eu acho! Acho e vou continuar achando como já achei um dia que o ICQ, com aquelas florzinhas ridículas e aquele “óow” irritante avisando que uma mensagem chegou, era a melhor invenção da humanidade. Conclusão: Não é que tudo que é bom dura pouco, é que hoje em dia a duração de tudo que parece ser bom depende da capacidade criativa do homem em logo mais ali na frente inventar outra coisa que vai deixar o espetacular só no inconsciente coletivo de cada um. E tenho dito!

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Até que é bom ser um problemático convicto!

É bom poder escrever. Aqui a gente registra as etapas do crescimento sem saber. Esses dias estava lendo uns textos antigos, foi o maior barato. Em cada conjunto de palavras a lembrança clara do contexto em que foi escrito. Aí comecei a entender o tesão de crescer. De fazer os desafios se tornarem fatos concretos, de trazer o inimaginável pro rotineiro, de renovar a carga de problemas.
Problemas... pensa bem, a gente não sabe valorizá-los. O que seria da vida sem todos os nossos problemas? Assim como o esfriar de uma garrafa de cerveja gelada é uma troca de calor com o ambiente onde ela está - no caso a mesa do boteco - a solução dos nossos problemas é a troca do esforço pela experiência. O fascinante é o desafio.
Claro que falar assim sobre algo que incomoda tanto a todos nós é muito bonito. Saco é ter que enfrentar tanta coisa chata e complicada pra viver bem. Mas tudo bem. Olha só, na verdade, cada nova fase da nossa vida é uma grande caixa fechada cheia de problemas doidos pra serem resolvidos. Quando a gente se cansa de um emprego, de um namoro, de uma amizade é porque precisamos partir pra outra. Pra outra leva de problemas. Eles sempre vão existir, o bom é que se renovem. Quando se tornam crônicos é melhor abandoná-los, com raríssimas exceções.
O emprego é bom enquanto os problemas ainda são desafiadores, quando o chefe é chato, mas parece te testar pra saber do que você é capaz, quando o colega é arrogante, mas parece uma questão de tempo até você conquistá-lo e ganhar um grande amigo pra falar mal do chefe xarope. Aí o tempo passa, o chefe continua chato e o amigo arrogante. Faça uma auto-reflexão: caso chegue à conclusão de que o problema não é você, procure outro emprego, procure outros problemas.
Bom, agora dá uma olhada na sua vida amorosa. O problema é a falta de dinheiro pra pagar um jantar decente pra namorada? Ou a falta de cumplicidade entre os dois? Carinho de menos? Demais? Ciúme demais? Podem nem ser problemas, porque no começo ela talvez nem ligue, você provavelmente nem ligue. Mas se ela começar a reclamar muito faça aquela pergunta pra você mesmo: O problema sou eu? Não, não sou! Ah, parceiro, troque a namorada! Procure outra que te ofereça problemas novos, mais desafiadores e menos crônicos.
No quesito amizade a questão é muito simples, pelo menos pra mim. Amigo não vai sumir, se acontecer não é por mal. Amigo não vai deixar de te atender, a menos que a bateria do celular acabe. Amigo vai sempre deixar bem claro que gosta de você, sem atitudes estranhas, sem olhares questionadores, a menos que você os mereça. Enfim, amigo te ajuda a resolver seus problemas. Se um amigo te complica mais do que te ajuda, então talvez não seja seu amigo.
De resto é o de sempre. Torcer pra que a vida nos dê de presente bons problemas. Se assim for, certamente iremos resolvê-los com o maior prazer do mundo.

A historia do ovo bomba

Um pouco de leite, dois ovos e queijo à vontade. Ingredientes modestos que, quando aliados ao saber culinário, resultam numa iguaria simplesmente divina: o ovo no leite.
Passado de geração em geração o prato é apreciado intensamente na família. E eu, como bom ostentador do sobrenome que me foi dado ao nascer, não poderia quebrar esta tradição, que rompe as barreiras do tempo e transcende todos os limites e diferenças culturais do almoço de domingo.
Pois bem, no ano de 2004, quando ainda cursava jornalismo, mantinha-me empregado em dois estágios, o que me consumia praticamente todo o tempo em que não estava em aula na faculdade. Chegava em casa por volta das 23h30, naturalmente, morto de fome. Nesse estado de pura indefesa estomacal me dirigia à cozinha como um somaliano de baixa renda, louco para manter viva a tradição culinária da família.
No caminho de volta para o lar já imaginava como seria preparado o ovo no leite da noite. Com um pouco de molho shoyu, talvez, ou quem sabe catchup, até mesmo tempero de macarrão instantâneo... tudo é válido!
Foi numa dessas cruzadas diárias que o inesperado aconteceu. Cheguei em casa e meu irmão mais velho, Diego, estava assistindo televisão na sala. Antes de começar a seguir o menu de sempre preparei a estrutura mínima necessária: peguei uma frigideira recém lavada, ainda no escorredor de pratos e a coloquei no fogo. Para diversificar resolvi fritar um hambúrguer juntamente com os ovos. Quando coloquei óleo na frigideira percebi que algo estava errado. O recipiente, que a esta altura estava tampado, começou a fazer barulhos estranhos, como um pacote de pipocas de microondas prestes a ficar pronto. De tão cansado, não percebi que colocava no fogo, uma frigideira ainda molhada. Foi aí que tive a infeliz idéia de chegar mais perto do fogo para identificar o problema. A merda toda explodiu! Só tive o tempo de cobrir o rosto. A tampa voou para o outro lado da cozinha. O óleo, que antes estava dentro da frigideira, se espalhou por todo o chão, não se esquecendo de poupar nem a borracha da porta da geladeira. Graças ao bom Deus e aos Santos protetores dos atrapalhados que nada de mal me aconteceu. Quando tirei a mão do rosto desliguei o fogão. Olhei para os lados e não acreditava no que via. Se alguém viesse me contar, certamente não acreditaria. Era impensável imaginar que fui capaz de fazer toda aquela cagada sozinho. Era óleo pra tudo quanto era lado. Meu irmão, que com o barulho correu em direção à cozinha, provavelmente preocupado com o meu bem estar, ria de se mijar. Dizia que eu teria que limpar tudo aquilo sozinho.
A rotina dupla de estágio já não bastava. As cansativas aulas acompanhadas de profundas cochiladas e babadas no caderno também não. Para fazer jus à minha fama de "só faz merda" tinha que completar meu dia com uma dessas. Resultado: Gastei horas limpando a cozinha. Fui dormir fedendo a óleo e, claro, com muita fome... depois disso, não sei porque, enjoei de ovo no leite!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Eu comprei um peixe

Olho pra ele e não consigo entender. De um lado pro outro a irritabilidade fica evidente pela quantidade de movimentos bruscos e olhares tortos. Dá até medo às vezes. Eu comprei um peixe. Já faz tempo. Mas não canso de olhar pra ele. É bonito, azul, brilhante. Nadadeiras compridas, que parecem um bonito e longo véu, balançando dentro da água clara. Mas voltemos à questão da índole perturbada do animal. Já conhecia a fama antes mesmo de comprá-lo. Fui avisado e mesmo assim paguei pra ver... literalmente. Três reais... foi quanto ele me custou. É um peixe Beta. A espécie inspirou o nome: Beto. E assim fiquei feliz de verdade com a aquisição de um novo amigo. AmigO porque acho que é homem, o vendedor não garantiu que de fato fosse. Ele também não sabia. Daí resolvi escolher o sexo. É macho. Macho e pronto. Mas aí me veio à cabeça a seguinte máxima. Amizade não se compra, né?! Muito menos se escolhe o sexo. De fato, se fosse assim os homens, provavelmente, iriam pôr bundão e cabelo comprido em todos os “brothers”. Por isso acho que o Beto se ofendeu com a maneira pela qual eu escolhi para incluí-lo na minha família. Achei que ele fosse entender, afinal não tenho gabarito suficiente pra pescar nem um lambari que seja, quanto mais um peixe como o Beto, que eu nem sei onde vive. E tem mais. Tive que comprar porque achei que poderia ser difícil conquistar a amizade de um bicho que dizem ser bastante nervoso. Enfim, ele é meu. Meu amigo. Não se discute mais isso. Sendo assim não levei pra casa o primeiro aquário que vendia na loja. Era muito pequenininho, apertado, quadradão, feio, sem simetria nenhuma. Levei o Beto pra casa num saquinho plástico transparente mesmo e logo arrumei pra ele um dormitório decente. Maior, redondo, bojudo... bonitão. No fundo coloquei pedrinhas brancas. Logo acima outras transparentes, maiores, recheadas com detalhes cor de laranja que pareciam pequenas flores dentro de pedaços redondos de cristal. Evidentemente que não era isso, mas que parecia, parecia. Pra completar o cenário de paz da casa onde o Beto morava dentro da minha casa, arranjei um belo exemplar de uma planta verde. Até que vistosa, mas de plástico... somente plástico. Tão artificial que ficava presa no fundo do aquário por uma ventosa e não colaborava em absolutamente nada pra fotossíntese embaixo d´água. Assim fiquei bastante satisfeito com meu novo propósito. Cuidar de um animal. De um ser vivo. Pra muitos o Beto pode não fazer a mínima diferença no mundo, mas pra mim ele passou a ser um companheiro. Afinal ele vive comigo, no meu quarto. No criado mudo ao lado da minha cama. Passou a ser assim: Todo dia eu acordava com o barulho irritantemente alto do alarme do celular, e acho que ele também. Gostava disso porque nós dois despertávamos bem elétricos. Ele era agitado que nem eu. Por isso me apeguei tanto, me identifiquei tanto. E assim a rotina prosseguia. Acordava cedo, às vezes bem cedo. As primeiras palavras costumavam ser: “Bom dia, Beto”. Não ouvia nenhuma resposta nunca, vê se pode?! Mas, tudo bem, nem me abatia com a ignorância alheia. Mesmo com a falta de educação matinal alimentava meu novo parceiro aquático. Todos os dias, duas vezes por dia. Era sempre assim. Cinco bolinhas de ração de manhã, cinco bolinhas de ração no fim da tarde. No domingo então, era uma maravilha... três refeições. Sempre que eu chegava perto do aquário tentava puxar um papo. Geralmente começava devagarzinho. Elogiando sempre, pra inflar o ego do bicho. Falava pra ele que ele estava bonito. Que estava comendo direitinho, que crescia, ficava forte. Dizia sempre que eu estava muito orgulhoso dele. Mesmo assim só recebia em troca cara feia e olhares de repressão. Isso quando ele olhava pra mim. Não eram raras as vezes em que, por conta de tudo isso, eu ficava bem chateado. Em muitos momentos, quando já era tarde, fui dormir contrariado, pensando que logo ali, ao lado da minha cama, tinha alguém que não estava nem aí pra mim. Mesmo assim, sempre dava boa noite. Aí cheguei à conclusão: De fato o Beto era um ingrato. Isso era inegável. Tratava tão bem dele e a agressividade que eu recebia em troca muitas vezes me incomodava. Sou bem da paz, sabe?! Mas também não posso reclamar muito não. Já sabia que os peixes dessa espécie são brigões, mal encarados. Dizem que um Beta é capaz de matar um outro peixinho que for colocado no aquário dele. E que se esse peixinho for um outro Beta, os dois brigam até morrer de cansaço. Trágico não?! Diante da natureza assassina do meu companheiro de quarto decidi ficar na minha. Vai que sobra pra mim. Daí, antes de dormir, com a cabeça no travesseiro, pensava onde eu tinha errado na educação do “meu querido”. Dizem que o Pit Bull é um cachorro agressivo, mas já conheci vários deles bem mansinhos, dóceis e brincalhões. Vai da criação. Achei que com o Beto poderia ser igual. Por isso sempre tratei dele tão bem. Às vezes até tentava acariciá-lo com a ponta do dedo enfiada dentro da água. Mas o Beto sempre fugia. Confesso: Hoje sinto-me um fracassado. Falhei na missão de educar meu peixe. Sento em frente a ele e aí, quando ele enxerga o próprio reflexo no vidro do aquário fica todo inchado. Chego a pensar que é pra mim. Ele estica as guelras e dá uma clara demonstração de que não consegui fazer dele um amigo do peito. Tudo bem. O animal fica o dia todo nadando na água fresquinha, come bem, descansa quando quer, mora numa casa confortável, com piscina... só piscina, e ainda é estressado. Imaginei que se fosse gente, poderia se tornar a representação de um cara podre de rico, casado com um mulherão, cheio de conforto e ainda assim infeliz, ignorante. Imagina esbarrar num sujeito desse na rua?! Melhor que ele continue sendo peixe. Sabe de uma coisa?! Mesmo assim eu ainda trato ele bem. Permaneço com a esperança de que um dia ele se torne mais bonzinho. Vai que eu convenço o bicho. Só tenho medo de uma coisa: Dizem que ele tem vida curta. Vai ver que é porque logo morre de stress. Espero que o meu peixe não tenha um colapso nervoso. Espero que ele entenda logo, e de uma vez, que o melhor mesmo é viver em paz. Boa noite, Beto!