quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Pela simetria das coisas

Sei que sou neurótico. Isso nunca neguei. Desde peagazinho sempre tive minha “nóias”. Minha mãe nunca me entendeu. Coitada. Nem mesmo ela. Andava pelas calçadas intercalando meus passos com as cores do chão. Pé esquerdo na parte preta do piso, pé direito na branca. E ai de mim se eu errasse. Não podia acontecer. Cresci. E junto de mim minhas manias. Tão esdrúxulas quanto estúpidas. Esbarrava meu braço em alguma coisa e lá tinha eu que encostar exatamente a mesma parte do outro braço pra “compensar”. Isso me irritava. Hoje imagino quanto devia irritar os que estavam junto de mim.
Bom, hoje sou adulto. Tenho casa, coisas, tarefas de gente grande. Pago aluguel, contas. Tenho dívidas. Minhas. E se evolui, evoluíram também minhas “estranhices”. Sou a pessoa mais simétrica que conheço. Os sapatos devem estar exatamente alinhados da mesma maneira. As camisas no armário viradas todas para o mesmo lado, assim como os cabides. Todas seguindo uma ordem lógica de cores. Da tonalidade mais fraca pra mais forte. Da esquerda pra direita.
Meus móveis são poucos, mas retos. Completam-se no ambiente. Formam um só desenho. Meu Deus, que irritante! Não sei como os outros me agüentam. Juro que não. Sou insuportável nesse ponto. Dizem que é excesso de organização. Digo que é algum tipo de distúrbio. Um transtorno obsessivo compulsivo ou algo do tipo que só os psiquiatras descreveriam com certeza de causa.
Meus amigos, que graças a Deus não são poucos, brincam comigo. Tiram as coisas na minha casa do lugar, só porque sabem que eu vou arrumá-las logo em seguida. Riem disso. Sinto-me insuportavelmente desconfortável se o lugar das coisas não tem as coisas no lugar. Vai entender. Só sei que desse jeito me sinto bem. Mesmo que irrite.

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