segunda-feira, 22 de novembro de 2010

A semana em que eu levei ferro!

Ou eu não tenho a menor noção de como se administrar um estabelecimento daquele ou a dona da lavanderia que eu sou cliente acha que eu não sei fazer conta. Não, porque depois de dois anos levando algumas roupas lá só agora eu descobri que pra lavar e passar cada camisa custa R$4,60 e só lavar R$1,80... dá pra acreditar?! E como eu, assumidamente, tenho a mão mais fechada que porta de freezer novo resolvi botar meu ferro de passar pra funcionar freneticamente, coisa que nunca tinha acontecido até então. Como ele estava acostumado, no máximo, com uma passadinha rápida da camiseta um pouquinho amarrotada por estar dobrada há muito tempo no guarda-roupa, acabou abrindo o bico rapidinho. Não me admirei um nada. O ferro que eu tinha em casa era herança da última inquilina do apartamento que eu alugo em Brasília. Pra ela ter me dado imagina o naipe… daqueles genéricos, quase descartáveis. O teflon que servia pra fazer o metal da parte inferior deslizar melhor sobre o tecido há muito já havia derretido e o resto que ainda se mantinha firme fazia questão de às vezes deixar uma manchinha de lembrança, geralmente, perto do bolso ou dos botões mais próximos à gola. E como eu não costumava me tornar o mais feliz dos seres quando isso acontecia acabei nem me chateando muito quando ele, absolutamente do nada, parou de funcionar.
Ok, estava convencido, portanto, de que já estava mais que na hora de pedir licença ao escorpião, que insiste em habitar meu bolso, e ir à compra de um ferro novo. Aproveitei uma das minhas cada vez mais raras manhãs livres pra ir a um shopping um tanto quanto popular aqui de Brasília. Lá tem todas aquelas lojas onde dá pra mobiliar toda a casa com móveis que, geralmente, já estão acabados antes do fim carnê. E é por isso que eu gosto tanto de ir lá. Pesquisei, pesquisei, pesquisei e descobri que estava perdendo tempo. O aparelho que eu escolhi pra comprar tinha o preço meio que tabelado em todas as lojas. Aí acabei fechando negócio nas Casas Bahia, o último estabelecimento que eu fui. Escolhi um BLACK & Decker, que ironicamente, era branco. Prezei pela confiança da marca, que, até então, eu acreditava ser top. Paguei R$59,90 num modelo a vapor, sem o teflon maldito. Um modelo sem frescurite nenhuma. Nada de esguichinho, borrifador ou aqueles breguenaites que encarecem um monte o produto e a gente acaba que nunca usa. Um ferro de macho (se é que isso existe).
Pensa numa criança contente indo embora com o brinquedo novo era eu. Como estava, como sempre, meio atrasado, fui direto pro trabalho e o deixei no carro. Depois de mais uma labutante rotina voltei pra residência e fui babando achar uma camisa toda engruvinhada pra testar minha mais nova aquisição. Tirei da caixa, chequei a voltagem, liguei na tomada. Abri um sorriso, abri a tábua, estiquei a camisa. Esperei esquentar, comecei a passar. Fiquei empolgado. A TV estava alta e acabei achando que o barulhinho que eu ouvia vinha do filme que também passava naquela hora (Entendeu o “também passava”, hã, hã, hã?). Radicalizei enchendo o ferro de água e doido pra, pela primeira vez na vida, usar um ferro a vapor com vapor de verdade. Foi a idéia mais idiota dos últimos tempos. O barulho, que era mais ou menos assim: bzzzzzzzzz, bzzzzzzzzzzzzzzz, ficou cada vez mais alto e contínuo. Dei um pulo e, na base do reflexo, puxei o cabo da tomada. Esvaziei o reservatório. Guardei o maledeto na caixa de novo e fui dormir mais emburrado que namorado traído pelo melhor amigo.
No dia seguinte voltei na loja, troquei o ferro por um outro exatamente igual depois de um processo super burocrático, e voltei pra casa. Meu armário é pequeno, as camisas ficam muito juntas e naturalmente acabam ficando amassadas. Peguei uma delas pra testar o ferro novo de novo e eis que chego à conclusão que hoje em dia tudo é feito pra quebrar. O barulho dos infernos voltou. Dessa vez deu até pra ver uns raiozinhos assustadoramente azuis sendo projetados no vão que fica entre a base de metal e o corpo do ferro... o tal do salva botões. Por um instante achei até que não tinham trocado nada, que o moço da loja tinha me engabelado bonito, mas raciocinei alguns minutos a mais e percebi que o problema poderia ser do lote que foi adquirido pela loja.
De novo abri mão de importantes horas do meu dia pra retornar ao shopping já com aquela cara você imagina do que. Dessa vez fiquei tão desgostoso que só queria meu dinheiro de volta. Aí que o bicho pegou. Fui mega mal atendido, destratado, quase implorando pra alguém ali fazer valer o utópico, mas existente, código de defesa do consumidor. Primeiro procurei um vendedor, que me encaminhou pra assistência técnica, que falou pra eu procurar o gerente, que jurou que eu resolvia tudo no balcão do pacote, que tinha um cara nojento que me deixou falando sozinho, que me obrigou a chamar um vendedor, que disse pra eu conversar com o responsável do setor de eletrodomésticos, que me mandou pro crediário onde, enfim, parecia que conseguiria dar fim a referida via sacra de mais de uma hora. No caixa da loja fui atendido por uma operadora um tanto quanto despreparada (característica primordial de pelo menos 80% de quem lida com o público aqui em Brasília). Ela disse que eu havia pago com cartão de débito e iria receber em dinheiro. “O senhor faz nesse papel uma declaração disso aí pra mim”. Desse jeito, sem nem me olhar no rosto. De tão cheio da vontade de arrancar meu estômago pela boca que eu tava, tomei uma decisão pra não mandar a mulher às fezes (pra falar bonitinho). Só de raiva escrevi bem assim no papel: “Paguei em débito e to recebendo em dinheiro, assinado Phelipe Siani”. Quando ela disse que daquele jeito não servia e demorou uns cinco minutos pra trazer outro papel achei melhor fazer certo logo, pois tinha que trabalhar dali a pouco mais de uma hora e ainda tinha que passar em casa pra me arrumar.
Na manhã seguinte com o dinheiro ressarcido e uma desilusão eletrodoméstica das grandes fui ao supermercado Extra em busca de um outro ferro. Lá, onde eu não havia pesquisado antes e tive uma surpresa grata. Encontrei um modelo da Black & Decker superior ao que eu erroneamente comprei pelo mesmo preço que eu havia pago. Esse tinha o esguichinho inútil, mas beleza. Custava os mesmos R$59,90. Comprei. Fui pra casa e adivinha... adivinha... adivinha... ADIVINHAAAAAAAAAAAAAAAA! A merda começou a fazer o barulho maldito. Que inferno, ferro desgraçado do cacete. Negócio feito pra acabar com o dia dos outros, saco! Olhei pra parede, juro que pensei em atirar minha cabeça em direção a ela de ódio. Jesus, que raiva me consumia naquele momento. Voltei babando pro supermercado e a atendente, claro, não entendia o porquê da minha ira. Ela disse que pra trocar eu tinha que passar antes pelo cara da assistência técnica testar. Foi o que ele fez. Ligou o ferro na minha frente e o aparelho do capeta, só pra fazer do desgraçado do Murphy o homem mais orgulhoso da lei que criou, não deu um piu. Mesmo assim eles me deixaram substituir a desgraça, talvez por medo da baba branca que jorrava dos cantos da minha boca.
Escolhi um Electrolux azulzinho que me custou R$20 a mais. Voltei pra casa. Testei, a princípio, sem problemas. Coloquei água pra usar o vapor e bingo... achei uma cagada. Pelos buracos de onde deveria sair água em estado gasoso saía líquido mesmo. Em vez de passar, lavei a camisa de novo. Aí desisti de usar o vapor porque o ferro tinha um monte de botões que eu não faço a menor idéia pra que que servem. Fiquei revoltado e passei a usar o ferro no seco. Foi aí que cheguei à conclusão que bom mesmo era o ferro herdado da inquilina, que não deve ter custado mais que R$30 e durou, só na minha mão, dois anos. Com ele nunca tive um probleminha sequer até o suspiro final que ele deu, quando, assim como a gente, deixou de ser quente e ficou com o corpo gelado pra sempre. Pra falar a verdade o teflon que saía nem incomodava tanto assim. Era só passar uma aguinha e tava tudo certo. Bendito ferrinho genérico... olha, eu era feliz e não fazia a menor idéia. Agora agüenta, se vira com o "passar da modernidade"!