sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tenho andado na "secura" total!

Basta me conhecer um pouquinho pra saber que eu amo futebol. Gosto de ver, de falar, mas, acima de tudo, de jogar. Os psicólogos me odeiam... o futebol é a minha terapia. Sou lateral direito e, pra mim, os problemas somem, mesmo que momentaneamente, quando eu dou um cruzamento de 40 metros certinho no pé de quem tá lá na banheira (o que nem sempre acontece, entende?!). Mas desde que cheguei a Brasília o ofício de exercer essa arte, digamos assim, se tornou um pouco mais trabalhoso. Não pela falta de lugares ou de galeras pra jogar, não é isso. Isso é "facinho" de achar, sempre. O problema é bater uma bola num sábado a tarde, com um sol rachador na cabeça e com a umidade relativa do ar em 8%. Sim, eu disse 8%. Aqui a gente, invariavelmente, convive com esse ambiente, digamos, "evaporizador". Alguém já teve essa experiência? Bicho, é horrível! Funciona mais ou menos assim: sabadão, dia lindo, você de folga chega bate aquela adrenalina de boleiro barrigudo. Aí você vai pro campo, encontra os parceiros, já vai dando uma "petecada" na bola do lado de fora só pra esperar chegar a hora do "racha". Aí os times são escolhidos, você pega um colete vermelho cintilante rasgado, que é usado todos os dias, mas só é lavado nos últimos fins de semana do mês, e o veste como se fosse a amarelinha da seléça. Devidamente trajado vai pro campo. Finge que dá uma alongada, logo interrompida pela ansiedade de começar a brincar de estrela logo. Aí o jogo começa, você pega na bola, dá um pique rumo ao gol adversário, dribla um, faz uma tabela perfeita com aquele companheiro perna de pau, que, por algum motivo, fez a única jogada certa das últimas 7 semanas logo com você, recebe de volta, sai na cara do gol, mira no ângulo e... chuta na bandeirinha de escanteio??? Você não tem mais perna, campeão. Mas o jogo acabou de começar e você já morreu em campo? Pois é... bastam pouquíssimos minutos de jogo pra gente implorar por um gole d'água naquela torneira enferrujada na lateral do campo. Aquela mesma com o cano de PVC marrom aparecendo em meio às falhas do acabamento feito com fita veda rosca. E você bebe aquela água como se fosse um suco estupidamente gelado de laranjas recém colhidas do pé. Aqui é assim. Todo mundo vive na secura (sem querer ofender os ninfomaníacos).
E pra dormir? Ahhh... pra dormir. Em São Paulo, pra mim, dormir com uma garrafa de água ao lado da cama era pura mania. Aqui é necessidade vital. Já cheguei a acabar com uma garrafa de um litro e meio durante a noite, tendo o sono interrompido por pelo menos 4 vezes graças a ímpetos de garganta extremamente seca. Quando a garrafa acaba e a sede continua chego a levantar e ir até a cozinha (que no caso é exatamente ao lado da cama... outro problema de Brasília: apartamentos "claustrofobicamente" pequenos e "empobrecedoramente" caros). Só se o sono for muito grande pra largar mão do percurso "zumbístico". Aí é assumir as ruminadas buscando nos mais remotos cantos escondidos entre a língua e os dentes gotículas de saliva que possam, por ora, umedecer a aspereza de uma boca absurdamente seca. Mas vamos supor que a sonolência venceu a sede. Ainda tem outra questão: Na manhã seguinte o bom dia vai sair pela metade porque a boca grudada vai lutar pra se abrir num bocejo matinal. Caso a teimosia insista em usar os músculos faciais pra esticar os lábios numa guerra declarada contra o aspecto esponjoso, o resultado pode ser o aparecimento de feridas e crateras avermelhadas graças a ação da sua burrice.
E aqui estou eu... escrevendo sobre isso, fazendo uso de um protetor labial com fator de proteção solar 50 e rezando pra que as tímidas nuvens que vejo se formarem no céu se materializem em chuvas pesadas. Quem sabe assim nosso dia a dia seja um pouquinho menos seco e a falta de "humildade" de muitos dos meus companheiros de pelada seja diminuída pela volta da "umidade" do ar.