domingo, 8 de junho de 2008

E é por isso que eu gosto tanto de ser brasileiro!

Futebol é o maior barato. Adoro escrever sobre esportes, mas futebol é o que há. Criado com avó, babá e irmã mais velha foi o homem que nunca sonhou em ser jogador profissional um dia. Eu quis, mas evidentemente nunca tive competência futebolística para atingir tal objetivo. Graças a Deus abandonei a idéia e me tornei jornalista assim que percebi minha gritante deficiência com a redonda nos pés. Hoje apenas brinco, bater uma bola é terapia, digo isso a toda hora. Ser repetitivo nesse caso é questão de princípios. E assim como no trabalho, nas amizades, e em muitos dos compromissos diuturnos, divirto-me muito jogando. Demais mesmo. A cena de um “racha” qualquer por si só já é hilária, mesmo ainda sem as jogadas esdrúxulas e as quedas provocadas por pisões, torções e chutes que destroem o refletor. Aquele mesmo que fica a uns dez metros acima do gol, onde o jogador jura que mirou na hora do chute.
Bom, vou provar o que digo enumerando e comentando as bizarrices: Começamos pelo porte físico dos atletas. Quando eu era criança e adolescente os times eram divididos na base do “com camisa e sem camisa”, hoje a galera já conseguiu uns coletes raramente lavados, mas com cores gritantes o suficiente pra tornar injustificada a desculpa de que “errei o passei porque te confundi com o adversário”. E é nesses coletes que vemos uma coleção de barriguinhas um tanto quanto salientes, umbigos, que sufocados pelo tecido fino, parecem um grand canyon em meio a tanta adiposidade. Isso sem falar no estilo dos corredores. A cada meia dúzia de passos ligeiros, uma crise de falta de ar. E não me excluo desse cenário bizarro.
Dando continuidade ao show de horror temos a habilidade propriamente dita, ou a falta dela, no caso. É uma beleza ver um companheiro aspirante a malabarista tentar elaborar uma bicicleta sem tirar o pé esquerdo do chão e acertando a cabeça do zagueiro no momento em que a bola já está quase no meio do campo. Uma beleza de jogada. Robinho então tem de monte. Todo mundo quer pedalar. Daí é comum sempre ter gente com o tornozelo torcido depois de tentar coreografar a miquice. Claro que sempre tem um ou outro que às vezes acerta uma jogada bacaninha e que até joga bem. Mas quase sempre esses se irritam com a incompetência alheia.
Daí chegamos ao ponto talvez mais incrível dessas histórias de boleiros. A famosa “mala”. Pode crer: o mais emperequetado antes do jogo começar é sempre o pior do time. E também é o mesmo que os caras falam bem baixinho pro companheiro ao lado: “Dá uma olhada na chuteira do fera. Deve jogar demais”. Mal sabem. Marrento é a mãe!
Chegamos então a maior das mentiras que contamos pra nós mesmos enquanto nos sentimos Cristianos Ronaldos no campinho de terra. A falsa sensação de “olha como eu sou saudável”. A regra é sempre a mesma: meia hora ou quarenta minutos de pelada pra duas horas de porções de torresmo peludo. Assim que acaba o jogo todo mundo corre pro buteco pra descarregar a tensão acumulada com aquela voadora que levou do zagueirão que agora está aos berros, exaltado pelo efeito de cinco copos da cerveja sem espuma, defendendo o meio campo do timão. Aí o malabarista que chutou a cabeça do colega na tentativa da bicicleta jura que são paulino não é gay e que o Richarlyson não escreveu Ricky na camisa pra provocar a torcida, que foi a namorada dele que pediu. Enfim... depois de cumprir com meu papel de ser mais um especialista nessa grande mesa redonda de bar vou pra casa. Durmo tranqüilo, saciado e cheio de satisfação por saber que, mesmo 500 gramas mais gordo por causa do X-Salada que eu comi por não agüentar a porção de picanha chegar, cumpri minha meta esportiva da semana!